A jornada para a COP26 – conectando, capacitando e inspirando a família anglicana em todo o mundo para salvaguardar a integridade da criação durante 2021

31 March 2021

“Vivenciar minha fé cristã é seguir Jesus. Isso deve incluir nos colocarmos ao lado das pessoas mais vulneráveis e marginalizadas na linha de frente da emergência climática. Como comunidades de fé, minha oração é para que possamos ficar juntas/os, emissárias/os da esperança e do amor, clamando pela justiça de Deus e pela paz neste precioso mundo. Agora é a hora de agir.” Justin Welby, Arcebispo da Cantuária, falando para lideranças internacionais da fé, 4 de fevereiro de 2021 

Notícia feita por Jack Palmer-White, Representante Permanente da Comunhão Anglicana nas Nações Unidas e Elizabeth Perry, Coordenadora de Comunicação e Advocacy da Aliança Anglicana.
Foto: Arcebispo Julio Murray falando em uma ação ecumênica durante a COP25.  Anglican Alliance / Elizabeth Perry

Este é um ano crítico para o mundo agir com relação às mudanças climáticas e proteger a integridade da criação. As conversas sobre o clima da ONU, COP26, que haviam sido adiadas, foram remarcadas para novembro e já existe um grande interesse e preparação para elas, tanto dentro da Comunhão Anglicana como em todo o mundo.  

Contudo, a COP26 – 26ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança Climática da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança Climática (UNFCCC) – é apenas uma das reuniões importantes que vão ocorrer este ano para tratar das crises ambientais que o mundo enfrenta. Outras reuniões, igualmente significativas, também irão moldar a agenda ambiental do planeta para os próximos anos. As decisões que serão tomadas – e as ações que virão a seguir – determinarão que tipo de mundo as futuras gerações herdarão.  

Assim, quais são alguns dos principais eventos e oportunidades que este ano oferece e como a Comunhão Anglicana irá se engajar neles?  

Nesta terceira parte de nossas notícias ambientais, exploramos estas questões e compartilhamos ideias sobre como as/os anglicanas/os de todas as partes do mundo podem se envolver. 

Porém, em primeiro lugar, vamos entender porque existe essa necessidade urgente de ação e dar uma breve visão geral do cuidado com a criação dentro da Comunhão Anglicana. 

Você pode acessar diretamente os eventos e oportunidades aqui. 

Pessoas e o planeta sob ameaça 

Não é exagero dizer que a integridade da criação está sob ameaça e em risco de colapso. Os sistemas da vida na terra encontram-se sob forte pressão em virtude da crise tripla de mudança climática, perda de biodiversidade e poluição. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) publicou recentemente seu primeiro relatório de síntese, Fazer as Pazes com a Natureza: Um estudo científico para atacar as emergências do clima, biodiversidade e poluição, que abre com estas duras palavras do Secretário Geral da ONU, António Guterres: “A humanidade está travando uma guerra contra a natureza. Isso é sem sentido e suicida. As consequências de nossa imprudência já são aparentes no sofrimento humano, perdas econômicas altíssimas e na erosão acelerada da vida na Terra.” 

Eventos climáticos extremos, a elevação do nível do mar e a mudança nos padrões das chuvas estão impactando milhões de pessoas por todo o mundo. Isso é evidente dentro da Comunhão Anglicana e mais além.  As pessoas convivem com a poluição e o desperdícioAmbientes naturais degradados são a regra geral para muita gente.   

Cuidado com a criação e a identidade anglicana 

Há muito tempo as/os anglicanas/os adotam uma compreensão holística da missão, que não apenas leva a sério o cuidado com a criação, mas também o vê como uma das principais maneiras de compartilharmos a história contínua de amor de Deus no mundo. Esse entendimento é expresso nas Marcas da Missão Anglicana e é vivenciado de inúmeras formas por anglicanas/os em toda a Comunhão.  

Contudo, provavelmente é justo dizer que o cuidado com a criação, a ação ambiental, proteger a terra e amar profundamente a criação – assim como Deus faz (João 3:16) – em geral ainda não recebem mesma prioridade das outras Marcas da Missão. Isso tem que mudar, e urgente. Os riscos são altos. 

Anglicanas/os e o Cuidado com a Criação 

Por toda a Comunhão, existem milhares de anglicanas/os que se comprometeram com o cuidado com a criação, trabalhando, orando e agindo para proteger e renovar a vida na terra. Seja com o plantio de árvores, mutirões de limpeza, adoção de protocolos ecológicos ou defendendo a mudança, as/os anglicanas/os estão colocando sua fé em ação.  

Os indígenas anglicanos desempenham um papel especialmente significativo dentro da Comunhão, como defensoras/es da Natureza e trazendo o entendimento tão necessário do profundo relacionamento e interdependência com a natureza, em grande contraste com a visão mundial extrativa dominante de forma mais geral. Isso foi ilustrado de forma muito interessante na série Vozes Indígenas Proféticas na Crise Planetária. 

Existem também iniciativas anglicanas que atuam com abrangência em toda a Comunhão. A Comunhão Anglicana aprovou resoluções sobre a mudança climática e meio ambiente através dos instrumentos do Conselho Consultivo Anglicano e Conferências de Bispas/os de Lambeth.   

A Rede Ambiental da Comunhão Anglicana (ACEN) reúne anglicanas/os que cuidam da criação de Deus. Ela se tornou uma rede oficial da Comunidade Anglicana desde 2002. A ACEN possibilita o compartilhamento de experiências, conhecimentos e recursos para estimular as/os anglicanas/os a apoiar as práticas ambientais sustentáveis tanto como pessoas como na vida de suas comunidades. Dentre suas muitas atividades, a ACEN promove e cria recursos para a Estação da Criação (trabalhando de forma ecumênica) e tem uma presença ativa das mídias sociais – as/os anglicanas/os pela Justiça Ambiental 

As/Os “Eco-Bispas/os” estão associados com a rede. As/Os Eco-bispas/os foram criados inicialmente em 2015 quando o Arcebispo Thabo Makgoba e a ACEN convidaram 17 “Bispas/os anglicanas/os por Justiça Climática” a se reunirem perto da Cidade do Cabo para refletir sobre “como podemos vivenciar, com urgência e em esperança, a Quinta Marca da Missão”. As/Os bispas/os vinham de lugares que já foram afetados pela mudança climática, muitos de regiões assoladas pela seca ou de regiões litorâneas e cidades vulneráveis à elevação do mar. Isso levou à publicação de sua declaração oficial, O Mundo é o Nosso HospedeiroAs/Os Eco-bispas/os continuam sendo defensores das preocupações ambientais tanto dentro da Comunhão como fora dela.

O cuidado com a Criação também é uma parte central e o foco do trabalho da Aliança Anglicana e do Escritório da Comunhão Anglicana nas Nações Unidas. 

Escritório da Comunhão Anglicana nas Nações Unidas (ACOUN): O Conselho Consultivo Anglicano (CCA) tem representação permanente na ONU e se envolve em várias questões, incluindo justiça de gênero, paz e segurança e o meio ambiente e clima. O CCA também é credenciado junto à Assembleia da ONU para o Meio Ambiente e deve receber o credenciamento à UNFCC antes da COP26. O ACOUN é responsável por coordenar e conduzir o engajamento de toda a Comunhão com esses órgãos e suas reuniões associadas. 

Aliança Anglicana existe para conectar, capacitar e inspirar a família anglicana em todo o mundo a trabalhar por um mundo livre da pobreza e da injustiça e salvaguardar a criação. Além de a integridade da criação estar em risco de colapso, a degradação e a mudança climática aumentam a pobreza e as desigualdades. Por meio de seus parceiros e redes de relacionamento, Facilitadores Regionais e agências anglicanas de missão e desenvolvimento, a Aliança Anglicana conecta-se com Anglicanas/os de base e praticantes do desenvolvimento em todas as partes da Comunhão.  A Aliança é capaz de ouvir e reunir histórias e experiências, e compartilhá-las com a equipe da ACOUN e também pode disseminar informações da equipe da ONU para as pessoas no campo. Nosso objetivo é conectar, capacitar e inspirar anglicanas/os a fazer do cuidado com a criação uma prioridade para ação e oração. 

Recentemente, ACEN, ACOUN, a Rede de Indígenas Anglicanos (AIN) e a Aliança têm colaborado de forma ainda mais estreita, cada órgão trazendo sua expertise particular para a visão compartilhada de salvaguardar a integridade da criação e renovar a vida na terra.  

O que esperamos atingir? 

A década atual – 2021 a 2030 – é a mais crítica que o mundo já conheceu para a tomada de ação para abordar a crise ambiental tripla. Sem isso, a vida da terra será impactada e degradada de formas que farão a pandemia de COVID-19 parecer pequena.  

Jovens Anglicanas/os pela Justiça Ambiental, Moçambique

O mundo está ferido. A Comunhão Anglicana é um corpo este corpo está ferido. É negada às pessoas e ao planeta a plenitude da vida que Jesus veio trazer (João 10:10). Cuidar da criação significa amar ao próximo, amar a nós mesmas/os e amar nosso Deus. 

E porque somos um corpo global de muitas partes, a Comunhão Anglicana pode desempenhar um papel relevante e significativo para ser parte da solução: inspirando novas formas de ver, preconizando a mudança, encorajando mutuamente à oração e à ação.  

O propósito geral do ACOUN e da Aliança é simplesmente fazer todo o possível para parar e reverter a catástrofe ambiental que se aproxima, ajudando a Comunhão Anglicana a vivenciar a Quinta Marca da Missão e trabalhando no sentido da visão do Reino de vida abundante e o florescimento mútuo das pessoas e do planeta. Nossas estratégias para alcançar isso são mais variadas e triviais, mas este é o objetivo principal pelo qual nos esforçamos.    

Quais são as oportunidades que 2021 oferece e como a Comunhão Anglicana irá se engajar neles? 

A COP do clima em Glasgow será realizada no final do ano e é o evento que mais receberá público e a atenção da mídia. Esta COP em particular é especialmente importante porque é a quinta reunião desde o histórico acordo do clima de Paris, de 2015, e assim, é o primeiro marco programado para todas as nações aumentarem significativamente sua ambição para a reduzirem suas emissões de gases do efeito estufa. São as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas ou NDCs, na sigla em inglês.  

É essencial entender que são as ações adotadas pelos governos e outros antes do evento – os compromissos que fazem para aumentar suas NDCs – que irão determinar o sucesso da COP26. A causa mais significativa e urgente à qual podemos nos engajar em toda a Comunhão antes da COP é junto a nossos governos nacionais, convocando-os a assumir compromissos mais fortes para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. O apoio à liderança anglicana nessa causa é a maior prioridade do grupo de trabalho de engajamento da Comunhão Anglicana à COP26 (vide seção sobre a COP26 abaixo).  

A Aliança ACT criou uma ferramenta para a defesa da causa em nível nacional sobre as NDCs (Inglês aquiEspanhola aqui) elaborada para atores da fé e está planejando um webinar para maio.  Essas ofertas ecumênicas, envolvendo múltiplas agências  são o melhor caminho para essa defesa e recomendamos fortemente que as/os anglicanas/os se envolvam com elas. Além da defesa da causa, também é vital colocar nossa casa em ordem. A inspiração e as ideias que podem ser adaptadas incluem os materiais Corrida para Zero (UNFCCC) e Sustentando a Terra, Nossa Ilha Natal (Diocese da Califórnia). 

O primeiro dos eventos globais de 2021, cronologicamente, é a quinta sessão da Assembleia das Nações Unidas para o Meio-Ambiente (UNEA-5). A primeira parte (UNEA-5.1) foi realizada em fevereiro e a segunda parte está marcada para fevereiro de 2022. A Comunhão Anglicana participou da UNEA-5.1 com uma pequena delegação liderada por Jack Palmer-White, que dirige o ACOUN. Ocorreram vários sucessos notáveis, como descrito em nossa recente notícia na Internet 

Na quinta-feira, 25 de março, a ACEN, em parceria com as principais agências cristãs do Reino Unido, realizou um webinar perguntando como as Igrejas e a Comunhão Anglicana podem atuar para a justiça climática antes da COP26 através de desinvestimento e investimento. A Igreja Anglicana da África do Sul, a Igreja da Irlanda e a Igreja Anglicana em Aotearoa, Nova Zelândia e Polinésia já desinvestiram de combustíveis fósseis e muitas outras estão debatendo se irão fazer o mesmo. Embora o público era principalmente do Reino Unido, o convite foi aberto para “Participar deste webinar interativo para ouvir os líderes inspiradores de toda a Comunhão Anglicana, que compartilharão seus insights sobre os passos que as Igrejas precisam dar em termos de desinvestimento e investimento antes da COP26 de Glasgow, em novembro de 2021”. 

Em maio, a Conferência das Partes da Convenção para Diversidade Biológica  (CBD, em sua sigla em inglês) que havia sido adiada, está marcada para acontecer em Kunming, na China. Se for possível prosseguir, esta será outra reunião para dar forma ao cenário global, uma vez que os delegados irão analisar as conquistas da estratégia de 2011-2020 da CBD e está prevista a finalização da estrutura de biodiversidade global pós-2020. Estruturas como esta articulam um entendimento compartilhado e o compromisso global com a ação que é necessária. Elas proporcionam uma linguagem útil e uma estrutura que diferentes atores, incluindo os organizações baseadas na fé, podem relacionar a suas próprias atividades, ajudando-os a compartilhar o que estão fazendo e vendo como fazem parte de um quadro maior. 

Um específico grupo de trabalho em Diversidade anglicano se reuniu nos últimos meses. Ele ainda está em fase inicial de desenvolvimento e está buscando ativamente uma participação mais ampla e mais diversa. Sua constituição reconhece a importância de uma resposta holística ao meio-ambiente, abrangendo clima, natureza e poluição (dentre outros temas) e será alocado dentro da ACEN. Convidamos calorosamente as/os anglicanas/os interessados em participar do grupo a entrar em contato (elizabeth.perry@anglicancommunion.org ou jack.palmer-white@anglicancommunion.org).  

2021 é também o primeiro ano da  Década da Restauração de Ecossistemas da ONU. A década visa construir “um movimento global forte e amplo para acelerar a restauração e colocar o mundo no caminho de um futuro sustentável”, que envolverá construir vontade política e iniciativas básicas e que “proporcionará um núcleo para que todas/os as/os interessadas/os em restauração encontrem projetos, parcerias, financiamento e conhecimento que necessitam para ter êxito em seus esforços para restauração”. 

A década será lançada em 5 de junho – Dia Mundial do Meio Ambiente. Os recursos e ideias trazidos por essa iniciativa serão de grande ajuda para as/os anglicanas/os que desejem realizar atividades práticas para “sustentar e renovar a vida da terra”. A Década também ajudará as Igrejas a refletir sobre como podem conectar seu trabalho no cuidado com a criação com iniciativas globais mais amplas. 

Em julho, acontecerá o Fórum Político de Alto Nível sobre Desenvolvimento Sustentável da ONU, sobre o tema de como atingir uma recuperação sustentável e resiliente da pandemia de COVID-19. O mundo se comprometeu a atingir os Objetivos Globais para o Desenvolvimento Sustentável (os ODS) até 2030. Diversos Objetivos Globais estão relacionados com o meio ambiente, incluindo os objetivos 7 (energia acessível e limpa), 13 (ação contra a mudança global do clima), 14 (vida na água) e 15 (vida terrestre). 

Esta é outra oportunidade para oração, reflexão e ação pelas igrejas. 

A Temporada da Criação acontece de 1º de setembro a 4 de outubro. Agora bem estabelecida, a Temporada da Criação oferece um período extenso no ano eclesiástico para um foco especial e específico no mundo natural e em nosso relacionamento, com ele, enquanto cristãos. É hora de oração e ação – uma celebração global, ecumênica, que cresceu em dimensão e impacto ano após ano. Ela acontece até  4 de outubro, Dia de São Francisco. O tema da Estação da Criação deste ano é Um lar para todos? Renovando a Oikos de Deus” 

Neste ano crítico para a criação, a Temporada da Criação é ainda mais importante, especialmente porque acontece durante a preparação final para a COP26. Dois eventos importantes também estão marcados para a última semana da Temporada da Criação, descritos abaixo.  

Cúpula da Juventude pré-COP26 acontecerá entre 28 e 30 de setembro em Milão, na Itália, com o nome de Youth4Climate: direcionando a ambição. As/Os jovens estão na linha de frente do ativismo climático, como se viu na incrível ascensão das greves escolares das Sextas-feiras Para o Futuro. Uma pesquisa recente com adolescentes cristãos do Reino Unido, feita pela Tearfund concluiu que 9 de 10 adolescentes cristãos estão preocupados com a mudança climática, mas apenas 1 em cada 10 acha que sua igreja está fazendo o suficiente com relação a isso. “A impressão de que a mudança climática não é uma alta prioridade levou muitos jovens a se decepcionarem com a igreja”, aponta o relatório.  

Está sendo planejada uma reunião de líderes religiosos no Vaticano, que deve acontecer na primavera, provavelmente em 4 de outubro – para dar impulso à COP26. Este é um esforço conjunto entre o Vaticano e a presidência da COP (realizado em conjunto pelo Reino Unido e Itália). Na preparação para esse evento, as Embaixadas da Inglaterra e da Itália, junto com a Santa Sé, estão convocando uma série de reuniões virtuais.  Discurso do Arcebispo de Cantuária aos líderes da fé internacionais antes da conferência sobre mudança climática COP26. 4 de fevereiro de 2021, que aconteceu em 4 de fevereiro.  

O governo do Reino Unido escreve que “As lideranças religiosas desempenharam um papel fundamental na criação das condições para o sucesso da COP21 em 2015, e muitas delas falaram sobre a responsabilidade compartilhada das pessoas da fé com o cuidado com toda a criação”. 

A COP26 está marcada para acontecer entre 1 e 12 de novembro em Glasgow, no Reino Unido. As COPs da UNFCCC são o processo de tomada de decisão global mais importante sobre mudança climática. As/os anglicanas/os têm marcado presença nas COPS anteriores mas, com o credenciamento do Conselho Consultivo Anglicano junto à UNFCCC, esta é a primeira vez em que a Comunhão poderá participar como um todo. O credenciamento oferece oportunidades que não foram possíveis em conferências anteriores. Elas incluem: apresentar propostas formais por escrito, trazendo as vozes de toda a Comunhão para a UNFCC; ter uma delegação da Comunhão Anglicana como participante da Conferência das Partes anual; e conduzir reuniões entre a delegação e as delegações dos governos na COP. 

O plano de engajamento do Conselho Consultivo Anglicano está sendo desenvolvido por um grupo de trabalho liderado pelo Arcebispo Julio Murray Thompson, o Bispo do Panamá e Primaz da América Central, que lidera a Comunhão Anglicana nas questões relacionadas à mudança climática. O grupo de trabalho tem representação da AIN, jovens, ACOUN, ACEN, do Escritório da Comunhão Anglicana, Palácio de Lambeth e da Aliança Anglicana.  

Esse grupo fechou um acordo sobre três prioridades, que orientarão o engajamento do CCA antes, durante e depois da COP26 em novembro de 2021. Essas três prioridades são: 

  1. Capacitar e entusiasmar a liderança Anglicana: apoiando a liderança onde necessário para o engajamento na defesa da causa em nível nacional, incluindo o apoio aos líderes da igreja na identificação do compromisso de seus países ao Acordo de Paris e zelando para que continuem assumindo suas responsabilidades. 
  2. Alargar e aconselhar: apoiando e promovendo a participação de jovens e indígenas anglicanos na COP26 e depois dela. 
  3. Promover a resiliência e pensar nas finanças; desenvolver posições políticas claras sobre essas duas questões principais, que podem ser assumidas pela delegação em nível nacional/regional. 

O planejamento do engajamento está sendo preparado no entendimento de que a COP26 provavelmente ocorrerá em um formato virtual/híbrido.  

Como dissemos na introdução a esta seção, as ações realizadas antes da COP determinarão seu sucesso. A primeira das prioridades acima visa apoiar e estimular essa ação.  

Conclusão 

2021 é um ano de potencial sem paralelos para escolher como será o mundo em 2050 – para o bem ou para o mal. Em seu discurso para líderes da fé internacionais em 4 de fevereiro, o Arcebispo da Cantuária Justin Welby perguntou, “O que podemos fazer para que 2021 seja um ano de esperança?” Esta é uma pergunta para todos nós. 

O texto integral do poderoso discurso do Arcebispo está reproduzido abaixo. 

Discurso do Arcebispo de Cantuária à lideranças religiosas internacionais antes da conferência sobre mudança climática COP26. 4 de fevereiro de 2021. 

Às vezes, Deus enreda as linhas das circunstâncias e nossas vidas mudam para sempre. Este ano foi um exemplo extraordinário de um momento como esse. 

A pandemia de Covid-19 forçou o mundo a olhar para o modo como temos vivido e trabalhado, quando tanto do que era considerado “normal” não foi mais possível. Temos sido confrontadas/os por nosso comportamento: por nosso pecado; nossa ganância; nossa fragilidade humana; nossa exploração do meio ambiente e nossa interferência no mundo natural. Para muita gente, essa incerteza é nova. Porém, muitos mais em todo o mundo têm convivido com a incerteza há décadas, como consequência sombria, real e presente das mudanças climáticas. Pensar que este é um problema do futuro em vez de uma calamidade do presente é uma perspectiva cega dos privilegiados.  Olhamos ao redor e vemos que Moçambique foi atingido novamente por tempestades tropicais. Na Nigéria, a desertificação contribuiu indiretamente para o conflito entre pessoas na competição por recursos escassos. Enchentes e ciclones devastaram as colheitas na Melanésia, trazendo pobreza e insegurança alimentar. 

Porém, a pandemia também revelou nossa capacidade de mudança; as oportunidades para arrependimento; o potencial para esperança em meio ao sofrimento.  Aprendemos muito sobre nossa interconectividade, e sobre como precisamos uns dos outros. Isso foi uma revelação para muitas/os de nós: não podemos continuar como éramos. 

A mudança climática é um problema no qual ganância, fragilidade, justiça e interconectividade se unem. Existem sinais de esperança e consolação. No Reino Unido, estamos nos preparando para a COP26 em Glasgow, em novembro, e a reunião do G7 na Cornualha em junho. A boa notícia é que os Estados Unidos se reintegraram ao Acordo de Paris. Muitas pessoas poderosas estarão reunidas, e é preciso elas tenham em mente: como podemos nos recuperar de uma pandemia, imaginando um mundo centrado nas pessoas mais vulneráveis e mais marginalizadas? Em que posição está a proteção de nossos bens naturais no âmago de nossas decisões econômicas e financeiras? O que podemos fazer para que 2021 seja um ano de esperança? 

Aquelas/es que têm o poder de fazer a mudança precisarão equilibrar esse poder com sua responsabilidade. Nos trechos da Bíblia que se referem à criação do mundo, Deus deu aos humanos o domínio sobre a Terra. Porém, substituir domínio por dominação é uma teologia falsa e um pecado. Em vez disso, devemos olhar para as palavras de Jesus, de que o Filho do Homem “não veio para ser servido, veio para servir”. Como diz a quinta Marca da Missão da Comunhão Anglicana, é “servir a Terra, não escravizá-la”. 

Eu falo como cristão. Jesus nos ensina que não existe mandamento maior do que Amar a Deus e amar ao próximo. Obedecer a esses mandamentos como cristão nos dias de hoje significa enfrentar o desafio das mudanças climáticas e suas crises ambientais associadas. 

O relacionamento entre ciência e fé nos apresenta um caminho muito real e poderoso para uma mudança duradoura e relevante. Nosso alcance global, nosso compromisso com as comunidades locais e nossa esperança, combinados ao nosso conhecimento e expertise de ciência podem forjar uma aliança poderosa.  Eu me sinto pequeno perante a ação da Comunhão Anglicana ao redor do mundo, com as iniciativas das/os anglicanas/os pela Justiça Ambiental, a Rede Ambiental da Comunhão Anglicana, o grupo de Eco-bispas/os, a presença da Comunhão Anglicana na ONU e o trabalho da Aliança Anglicana. Reconheço em especial a contribuição do Arcebispo Julio Murray, que está nesta reunião e que lidera a Comunhão Anglicana nessa área. 

Por fim, aquelas/es que têm os ombros mais largos devem suportar o maior fardo. E se essas nações e poderes se posicionarem juntos em solidariedade, seus ombros serão fortes o suficiente. Esta é a hora e o lugar onde a generosidade, o sacrifício e o interesse próprio se sobrepõem. 

Vivenciar minha fé cristã é seguir Jesus. Isso tem que incluir nos colocarmos ao lado das/os mais vulneráveis e marginalizadas/os na linha de frente da emergência climática. Como comunidades de fé, minha oração é para que possamos ficar juntas/os, emissárias/os da esperança e do amor, clamando pela justiça de Deus e pela paz neste precioso mundo. Agora é a hora de agir.